terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Peste

       Ontem estava em uma conferência, no lançamento da segunda edição da revista de psicanálise da PUC ,quem falava era Vladimir Safatle.
       Discorreu sobre ´´Freud e a Teoria do desamparo``. citou Hobbes onde´´o que nos abre para o campo político e para as relações sociais em geral é o desamparo``. Segundo a teoria de Freud e suas 3 weltanschauungs, que podemos encontrar na suas ´´Novas conferências introdutórias sobre  a Psicanálise``, existiria uma primeira constituição social Animista, uma segunda Religiosa e uma terceira Científica. Esses três projetos da humanidade não se consolidaram por não reconhecerem o acaso que rege todas as experiências humanas. Na modernidade por exemplo toda a vivência do acaso é bloqueada, além disso  todas as visões de mundo que suscitam uma idéia de onipotência teológica teriam esteio no desamparo dos indivíduos perante as situações de acaso da vida e do social. A própria introjeção da lei e dos limites(superego) seria em sí uma demanda de amor, já que do amor afasta-se apenas a indiferença, quando debaixo de uma lei o sujeito pode reconhecer-se sob o olhar de um outro e logo possivelmente demanda e é demandado afetuosamente nesta relação.
        Acrescento em minha leitura desta palestra que Freud não deve ter tido acesso aos ensinamentos do Buda, a doutrina surgida na India com Sidarta Gautama mais de 2 mil e quinhentos anos atrás e tão pouca difundida no ocidente, me parece uma ótima filosofia do amor ao acaso, assim como a Psicanálise o é. Da valoração da vida, e mesmo com Shopenhauer e sua leitura distorcida do Budismo, já que negativa, podemos encontrar o cerne de uma aceitação do real, da realidade esta sim uma weltanschauung que não se baseia na opressão e tão pouco na abordagem romântica de uma Teogonia política social opressivamente diversa da aceitação do caos presente nas escolhas idiossincraticas e verdadeiras extintas pela espírito capitalista.

sábado, 27 de novembro de 2010

                                                SER-SEN-TIR

         Não podemos calar uma dor, já dizia Freud, ´´se a boca se cala falam as pontas dos dedos``, penso que não podemos é calar tudo o que somos, não somente toda a dor que nos acompanha nos atos, neles são refletidos nosso quadro vivido, como pintamos a existência, que cores que tonalidades usamos.
      
       Cada suspiro, cada sorriso, a direção de um olhar, o modo como abraçamos alguém, e parece que sabemos muito bem quando os atos não são coerentes com as palavras. Sentimos quando não existe coesão nos olhos de quem nos fala, no sorriso que nos saúda, no aperto de mão que não vibra amizade, espontâneamente nos denunciamos o tempo todo, nenhuma maquiagem pode cobrir o que somos nem mesmo as palavras que dizemos.

        Se algumas pessoas nos vêem, nos sentem pelo que sentem e não pelo que somos, neste caso indiferentes são a tais contrasensos , pois nos vivem pelo que querem, manipulam qualquer palavra, acreditam em qualquer sorriso , por assim acreditarem , assim nos tratam, as palavras vazias de seus atos incoerentes tencionam nosso ser enganar, de fato enganam-se, enganar a outrem é impossível, se somos incoerentes com o que sentimos não é a outro que enganamos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vida-Yoga

Habitualmente dedico certas horas semanais ao apreço da plena atenção no corpo, na respiração, no agora, e a isso nomeiam de yoga. Não sei do yoga dos livros, ainda não fui à India, tão pouco iluminada cheguei perto de estar. O yoga que pratico, não encontrei nos ensinamentos dos mestres, se assim fosse seria dizível seria aplicável a um método, a uma janela do existir, e não a autoentrega plena, sem desvios que leva ao silêncio da mente.
Não que não tenham me sido caros os livros, bem como os mestres, os professores e alunos, mas o yoga vivido de muito diferencia-se daquele que pode ser ensinado.
Antes de dar aula geralmente me coloco a praticar, penso que a prática em si é a formulação e o caminho, não é absorver algo, algum conhecimento para que se possa passar adiante, neste caso a sabedoria vem de dentro e não de fora, como pode o silêncio ensinar?
Para tanto é necessário, um percurso já trilhado seguir, podem me abjetar, e certamente não faço vulgo a tais afirmações, paradoxo é a imagem de que possa ser tal caminho duplamente percorrido, se se busca uma existência verdadeira, consciente, há de se saber que única, impossível reproduzir um caminho, uma vida.
 Penso ou não penso...

Se não saber é destino de todos, o cumpro com certo zelo, com extrema urgência procuro significado em tudo o que faço, para logo após perceber que tão longe de saber estou, quando faço, que mais sentido na rosa encontro, na pele tocando a areia, no sol, no peso do dia, no calor da manhã, nos au-aus da minha cachorra.
O epíteto do homem não são seus saberes, sobre as coisas, sobre o que elas significam, pensar sobre as coisas não é vivê-las, estar a pensar não é o mesmo que estar a existir.
Já pensei demais, vivo a pensar mas quanto mais penso mais me afasto do viver, viver é sempre agora, se posso viver o ontem, o amanhã é porque penso, mas só posso pensar por que vivi.
                  Vento...

Caminha o sol, a montanha,
       Procura a audácia dos Alpes
           dos vales, dos lagos, límpidos ares.
Correndo segue o vento,
                 soe, sopre, sofre,
                           colhe das flores seu cheiro,
                                          some constante e faceiro.
Olhando esperas de longe,
                          ali onde espia, espreita, esfria
Procura uma fresta de onde lhe resta,
                    sequer saber ser o olho que te guias.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tempestade 

Agora são 04:44 da manhã, decidi fazer este blog não por falta de sono, mas talvez este se ausentou na intenção própria de me encaminhar até aqui. Na verdade eu já não podia mais dormir, e eu bem sei que não sou de ter insônia se não durmo algo não anda bem, se não durmo é sinal de que tem algo de errado, mas não dessa vez. Dessa vez foi bem o contrário, não é que eu pudesse continuar na cama e assim amanhecer o dia da maneira corriqueira, não, certamente isso não me seria possível! Talvez eu tivesse aceitado um convite desde ontem e como tardasse a cumpri-lo o sono se ausentou e deu-me espaço para cá estar.O interesse me surgiu, quando estava a observar na tarde do dia anterior a chuva que lá fora caia. Não que a chuva em si tenha me motivado, sou uma apaixonada pela vida, e a chuva é para mim um dos mais belos espetáculos, dessa última faz sorver aos olhos o que de mais elevado temos em matéria de beleza, no entanto o que em mim movimentou um desejo de escrever foi o descarrilhar de comportamentos risos e sensações que nos povoam na tempestade.
Há decerto quem não se deixe envolver pela chuva, por sua aparência fria, penso que é perca de tempo pensar que dela podemos fugir, até o andarilho que puxa seu carrinho desatento pela calçada, que não sente que sente a chuva desarvorando sua pouca ordenada aparência, que se acostuma com a troça do tempo, com a barbárie do vento, com a roupa molhada, é atingido pelo desaforo da tempestade.
Penso que a chuva é como a vida, cada gota significando algo para alguém, cada um enfrentando do seu jeito, para uns é insuportável, alguns seguem, outros param, uns fogem dela tentando se esconder, outros dela    somente suprem o corpo, uns gostam, outros odeiam.
Se comparo a vida com a chuva  é que nesta podemos somente observar beleza quando aceitamos de fato sua dose de caos, a vida assim como a chuva apresenta-se travessa se queremos domina-la caótica se preestabelecermos metas, fora de lugar se não aceitamos suas condições, mas se nos dispomos a senti-la, a negociar com o caos o refresco da existência, dividimos o peso das trovoadas pela beleza da paisagem.