segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Criticidade não se compra na feira...

         Amizade verdadeira não se encontra nas prateleiras dos mercados. Isso me lembra a conversa que tive a pouco com meu querido amigo Isaias, um dos poucos seres humanos pensantes que tive a oportunidade de conhecer, diziamos o seguinte: Criticidade não se compra na feira, nem nos bancos das universidades!
        
          De fato, nos indicam grandes pensadores na academia, mas não nos ensinam a pensar. Diria mesmo que tentam nos impedir! Veja bem se você diz algo deve se fundamentar teoricamente, escrever então nem se fala! Pensar não deve ter nada haver com isso...quem disse que a formação acadêmica produz críticos em suas áreas?

           O real sentido de se ter um título é poder falar com todo o status merecido sobre o que tal autor pensou.
Ainda bem que ele o fez!....

          É estonteante quando se pode fazer uma bela salada de frutas de Pitágoras à Nietzsche, mas eu realmente fico embasbacada quando tropeço em seres humanos de verdade, com suas próprias críticas e indagações singulares, porque as idéias fabulosas que pululam as máquinas de reprodução acadêmica, essas eu tenho acesso nos livros...


    

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Outro dia...

        É melhor não esperar o amanhã, talvez ele realmente não exista. Retóricamente podemos afirmar que seja sempre inalcançável. Do ponto de vista da implacável ceifadora da existênca, aceita-se a afirmação sem muitos assombros e conjecturas. O fato é o que se pode fazer com ela.
        
        Certamente a incertezada vida nos desloca para algum lugar, na razão, no tempo ou no espaço, onde se busca um entalhe, um sentido, uma maneira de viver o efêmero espetáculo que se nos desacortina as vistas, sem perder a perspectiva de sua breviedade e sua beleza.
        
       Afirmar que o hoje é tudo o que temos implica-nos a transcorrer o ter, afinal o que temos para além daquilo que somos?
      
         Só podemos desfrutar a tranquilidade de um amanhecer, se tivermos tranquilidade interiormente. Para as pessoas tempestuosas que vivem a reclamar os desprazeres da vida, não existe paisagem que da alma faça os olhos entumescerem-se.
      
        A beleza de cada momento, o profundo significado que apregoamos a aprendizagem do que podem-se chamar ´´pedras no caminho``, se faz e é feita e atualizada constantemente pelo ser que a observa.
  
        Não é o mundo quem deve mudar para que sejamos felizes, tampouco as outras pessoas podem no faze-lo. O apontamento das mudanças deve nos ter como norte. É melhor como dizia Shakespeare ´´Não esperar que nos tragam flores, mas que plantemos nosso próprio jardim``.

         Somente observando beleza em sí próprio é possível admirar o mundo, se não acreditamos que podemos ser melhores hoje, no eterno agora, como podemos ter esperanças no futuro da humanidade?

        O grande mestre Mahatma Gandhi incentivava as pessoas a serem ´´ a mudança que gostariam de ver no mundo``. Quanto a isso ser possível é necessário ajustar a lupa, arregaçar as mangas, a ceifadora não vai esperar mais alguns anos....

         Se se quer apreciar a existência, deve-se fazer desta, a própria obra de arte, e no eterno agora colocar-se a esculpir.

    

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Efêmera e fugaz

           A vida é diria Shakespeare, um ´´conto contado por um idiota, cheio de sons e com muita fúria e significando nada``, eu diria que dependendo do idiota ela pode significar muito, em verdade é isto, a vida é o que fazemos dela, e fazemos algo dela a cada segundo.
        A cada segundo podemos tornar a vida algo extremamente valioso, ou apenas despender nossa energia para respirar, assim nos equipararmos aos peixes, com a ressalva de que eles sobrevivem debaixo da água e nós não.
      Estava a conversar com uma amiga ontem, dizíamos sobre a fragilidade de apostar a felicidade em metas e objetivos, a vida se faz, ou melhor a fazemos a cada simples ato como os atos corriqueiros de tomar banho, alimentar-se, caminhar, estudar..., teimamos porem a lhe atribuir o estatuto de privilégio a alguns momentos apenas, deixando os outros ao acaso, como molduras de um tempo que está por vir ou que já passou.
      Somente o agora pode dar algum significado para a vida, ainda que estejamos a rememorar o passado ou a confabular acerca do futuro, é no agora que pode-se desvelar algum sentido, alguma relação significativa nesse contexto transtemporal. Se não temos o agora, em suma, não vivemos, e não é tão incomum perder da vista o hoje, o instante atual.
      É no momento presente que fazemos com que o ´´conto`` não seja apenas ´´sons significando nada``.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Desejos

               O problema é que nem sempre encontramos o que queremos nas prateleiras. A promessa do capitalismo falha em reconhecer o caráter re-criativo do homem. Estagnando desejos e embalando promessas de felicidade.
               A produção cosmopolita abstrai dos produtos seu caráter autóctone, a produção em massa assassina o artesão.
               O sujeito deixa de criar e deseja o possível, assistimos a vivissecção da criatividade, transformada em pílulas e em objetos de consumo.
              Algo escapa  a este espírito do arquétipo dos desejos, no fundo desta lógica centrada no consumo, existe a dúvida de cada sujeito: Se consumimos ou se somos consumidos, transformados em res, receptáculo das tendências e modismos. Sobrepujados pelo imperativo categórico do compre.
             Sair deste lugar de alienação, é o único caminho que pode levar em conta um desejo, ou melhor, um sujeito.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

                            Canibalismo Onomatopeico


Palavras que vivem, palavras que morrem,
que mordem, palavras canibais,
que matam, que nos matam.
são estas palavras que nos prendem
e nos cercam, que nos restam.
Nascemos mutuamente, uns aos outros
as palavras que nos atestam e contestam.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Peste

       Ontem estava em uma conferência, no lançamento da segunda edição da revista de psicanálise da PUC ,quem falava era Vladimir Safatle.
       Discorreu sobre ´´Freud e a Teoria do desamparo``. citou Hobbes onde´´o que nos abre para o campo político e para as relações sociais em geral é o desamparo``. Segundo a teoria de Freud e suas 3 weltanschauungs, que podemos encontrar na suas ´´Novas conferências introdutórias sobre  a Psicanálise``, existiria uma primeira constituição social Animista, uma segunda Religiosa e uma terceira Científica. Esses três projetos da humanidade não se consolidaram por não reconhecerem o acaso que rege todas as experiências humanas. Na modernidade por exemplo toda a vivência do acaso é bloqueada, além disso  todas as visões de mundo que suscitam uma idéia de onipotência teológica teriam esteio no desamparo dos indivíduos perante as situações de acaso da vida e do social. A própria introjeção da lei e dos limites(superego) seria em sí uma demanda de amor, já que do amor afasta-se apenas a indiferença, quando debaixo de uma lei o sujeito pode reconhecer-se sob o olhar de um outro e logo possivelmente demanda e é demandado afetuosamente nesta relação.
        Acrescento em minha leitura desta palestra que Freud não deve ter tido acesso aos ensinamentos do Buda, a doutrina surgida na India com Sidarta Gautama mais de 2 mil e quinhentos anos atrás e tão pouca difundida no ocidente, me parece uma ótima filosofia do amor ao acaso, assim como a Psicanálise o é. Da valoração da vida, e mesmo com Shopenhauer e sua leitura distorcida do Budismo, já que negativa, podemos encontrar o cerne de uma aceitação do real, da realidade esta sim uma weltanschauung que não se baseia na opressão e tão pouco na abordagem romântica de uma Teogonia política social opressivamente diversa da aceitação do caos presente nas escolhas idiossincraticas e verdadeiras extintas pela espírito capitalista.

sábado, 27 de novembro de 2010

                                                SER-SEN-TIR

         Não podemos calar uma dor, já dizia Freud, ´´se a boca se cala falam as pontas dos dedos``, penso que não podemos é calar tudo o que somos, não somente toda a dor que nos acompanha nos atos, neles são refletidos nosso quadro vivido, como pintamos a existência, que cores que tonalidades usamos.
      
       Cada suspiro, cada sorriso, a direção de um olhar, o modo como abraçamos alguém, e parece que sabemos muito bem quando os atos não são coerentes com as palavras. Sentimos quando não existe coesão nos olhos de quem nos fala, no sorriso que nos saúda, no aperto de mão que não vibra amizade, espontâneamente nos denunciamos o tempo todo, nenhuma maquiagem pode cobrir o que somos nem mesmo as palavras que dizemos.

        Se algumas pessoas nos vêem, nos sentem pelo que sentem e não pelo que somos, neste caso indiferentes são a tais contrasensos , pois nos vivem pelo que querem, manipulam qualquer palavra, acreditam em qualquer sorriso , por assim acreditarem , assim nos tratam, as palavras vazias de seus atos incoerentes tencionam nosso ser enganar, de fato enganam-se, enganar a outrem é impossível, se somos incoerentes com o que sentimos não é a outro que enganamos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vida-Yoga

Habitualmente dedico certas horas semanais ao apreço da plena atenção no corpo, na respiração, no agora, e a isso nomeiam de yoga. Não sei do yoga dos livros, ainda não fui à India, tão pouco iluminada cheguei perto de estar. O yoga que pratico, não encontrei nos ensinamentos dos mestres, se assim fosse seria dizível seria aplicável a um método, a uma janela do existir, e não a autoentrega plena, sem desvios que leva ao silêncio da mente.
Não que não tenham me sido caros os livros, bem como os mestres, os professores e alunos, mas o yoga vivido de muito diferencia-se daquele que pode ser ensinado.
Antes de dar aula geralmente me coloco a praticar, penso que a prática em si é a formulação e o caminho, não é absorver algo, algum conhecimento para que se possa passar adiante, neste caso a sabedoria vem de dentro e não de fora, como pode o silêncio ensinar?
Para tanto é necessário, um percurso já trilhado seguir, podem me abjetar, e certamente não faço vulgo a tais afirmações, paradoxo é a imagem de que possa ser tal caminho duplamente percorrido, se se busca uma existência verdadeira, consciente, há de se saber que única, impossível reproduzir um caminho, uma vida.
 Penso ou não penso...

Se não saber é destino de todos, o cumpro com certo zelo, com extrema urgência procuro significado em tudo o que faço, para logo após perceber que tão longe de saber estou, quando faço, que mais sentido na rosa encontro, na pele tocando a areia, no sol, no peso do dia, no calor da manhã, nos au-aus da minha cachorra.
O epíteto do homem não são seus saberes, sobre as coisas, sobre o que elas significam, pensar sobre as coisas não é vivê-las, estar a pensar não é o mesmo que estar a existir.
Já pensei demais, vivo a pensar mas quanto mais penso mais me afasto do viver, viver é sempre agora, se posso viver o ontem, o amanhã é porque penso, mas só posso pensar por que vivi.
                  Vento...

Caminha o sol, a montanha,
       Procura a audácia dos Alpes
           dos vales, dos lagos, límpidos ares.
Correndo segue o vento,
                 soe, sopre, sofre,
                           colhe das flores seu cheiro,
                                          some constante e faceiro.
Olhando esperas de longe,
                          ali onde espia, espreita, esfria
Procura uma fresta de onde lhe resta,
                    sequer saber ser o olho que te guias.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tempestade 

Agora são 04:44 da manhã, decidi fazer este blog não por falta de sono, mas talvez este se ausentou na intenção própria de me encaminhar até aqui. Na verdade eu já não podia mais dormir, e eu bem sei que não sou de ter insônia se não durmo algo não anda bem, se não durmo é sinal de que tem algo de errado, mas não dessa vez. Dessa vez foi bem o contrário, não é que eu pudesse continuar na cama e assim amanhecer o dia da maneira corriqueira, não, certamente isso não me seria possível! Talvez eu tivesse aceitado um convite desde ontem e como tardasse a cumpri-lo o sono se ausentou e deu-me espaço para cá estar.O interesse me surgiu, quando estava a observar na tarde do dia anterior a chuva que lá fora caia. Não que a chuva em si tenha me motivado, sou uma apaixonada pela vida, e a chuva é para mim um dos mais belos espetáculos, dessa última faz sorver aos olhos o que de mais elevado temos em matéria de beleza, no entanto o que em mim movimentou um desejo de escrever foi o descarrilhar de comportamentos risos e sensações que nos povoam na tempestade.
Há decerto quem não se deixe envolver pela chuva, por sua aparência fria, penso que é perca de tempo pensar que dela podemos fugir, até o andarilho que puxa seu carrinho desatento pela calçada, que não sente que sente a chuva desarvorando sua pouca ordenada aparência, que se acostuma com a troça do tempo, com a barbárie do vento, com a roupa molhada, é atingido pelo desaforo da tempestade.
Penso que a chuva é como a vida, cada gota significando algo para alguém, cada um enfrentando do seu jeito, para uns é insuportável, alguns seguem, outros param, uns fogem dela tentando se esconder, outros dela    somente suprem o corpo, uns gostam, outros odeiam.
Se comparo a vida com a chuva  é que nesta podemos somente observar beleza quando aceitamos de fato sua dose de caos, a vida assim como a chuva apresenta-se travessa se queremos domina-la caótica se preestabelecermos metas, fora de lugar se não aceitamos suas condições, mas se nos dispomos a senti-la, a negociar com o caos o refresco da existência, dividimos o peso das trovoadas pela beleza da paisagem.